Um Chopes, Dois Pastel e uma Porção de Bobagem
Nascido dentro do Projeto Pantagruel, o espetáculo volta a integrar o repertório do grupo. Como tema elegido para este texto era escatologia, Mário Viana desenvolveu inicialmente um roteiro de um show onde se montava um dicionário de nojeiras e bobagens afins. Após algumas de leituras de diferentes versões do show, chegou-se a conclusão de que estaríamos repetindo a linguagem já aplicada em Poemas Fesceninos, o segundo texto do montado neste projeto. A questão do espaço veio à tona e o ambiente acabou sugerindo a dramaturgia, ressaltando as virtudes de um processo colaborativo. Abaixo publicamos as duas versões de texto no programa da peça, feito em forma de toalha de bar, além de um texto de Mário Viana feito para o programa atual:
Abertura do programa de 2000
Em Outubro de 99, quando iniciamos uma pesquisa extensa e aprofundada sobre François Rabelais, que visa trazer ao palco uma adaptação de seu romance Pantagruel, sentimos a necessidade de compartilhar com o público as nossas descobertas e dúvidas sobre tão complexa obra. A princípio, iríamos realizar algumas leituras de texto ou mesmo ensaios abertos, mas a gama de temas abordados nos possibilitou mais que isto. Resolvemos selecionar alguns destes temas, baseados no trabalho do crítico literário Mikhail Bakthin, e a partir deles, desenvolver espetáculos curtos, com custos de produção mais baixos, que pudessem trazer à tona não somente as questões teóricas que envolvem um projeto deste porte, como também efetivá-lo em sua prática teatral.
Parlapatões
Abertura do Programa de 2003
Em 1999 iniciamos o Projeto Pantagruel, que envolveu o grupo numa pesquisa sobre a Idade Média um ótimo resultado foi, entre outras parcerias, uma associação com dramaturgos, como Avelino Alves e Mário Viana, que desenvolverem cinco textos que desembocaram na montagem de Pantagruel, de 2001. Um Chopes, Dois Pastel e Uma Porção de Bobagem nasceu neste projeto e ganhou vida própria. Tornou-se um dos grandes sucessos dos Parlapatões em sua residência de dois anos no TBC. Acolhidos agora simpatia do espaço Next e com o respaldo da importante Lei do Fomento ao Teatro do Município, mais que uma reestréia, temos a retomada desta divertida, nojenta e debochada comédia em nosso repertório.
Parlapatões
Quem foi que teve essa idéia, gente?
Desde o momento em que decidimos, Hugo e eu, ambientar a peça em que testaríamos as linguagens escatológicas num boteco comum da cidade, eu dormi e acordei com um problema: como tornar cômico aquele amontoado de termos – para muitos – desagradáveis, sem cair na vulgaridade dos programas de auditório? O primeiro passo foi criar um clima de boteco real. Para isso, a musa inspiradora foi a grande Haydée, de cujo pé-sujo na Avenida Nove de Julho saíram muitas cervejas geladas, coxinhas de frango com catupiry, situações e piadas aproveitadas na peça pelo autor, assumido fã de mesas onde se joga conversa fora. Depois, cada ator deu sua contribuição pessoal, com casos, brincadeiras, improvisações. E o diretor deu aquele arremate caprichado como ovo colorido com anilina azul. No fim das contas, peça em cartaz, a gente chega a uma conclusão quase filosófica: mesa de boteco é que nem cama, a gente só divide com quem gosta.
Mário Viana